26 novembro 2006

A Qualidade da Propaganda!

Apesar do estranho nome, este é o 2º post motivado pela morte do meu familiar. Demorou tanto porque, por um lado tinha cada vez mais vontade de o escrever, por outro, não tinha paciência mesmo nenhuma para isso. Mas é chegada a hora de encerrar este capítulo. A vida, felizmente, continua.

No que respeita a religião, na minha família, há um pouco de tudo! Desde ateus como eu, a quem acredita em algo mas não pratica qualquer religião, a quem está mais ou menos envolvido com a actividade de uma igreja e até um membro laico de uma ordem religiosa. Como estamos todos muito convictos das nossas ideias e temos a plena consciência que ninguém vai convencer ninguém, religião não é um tema de conversa muito comum entre nós. Respeitamos as opções de cada um e pronto!

A pessoa que morreu era católica praticante pelo que teve um funeral católico do qual fez parte uma missa de corpo presente. Devido às minhas convicções foi-me dada a opção de não assistir. Só que, na minha cabeça, o factor “última homenagem a quem tinha morrido” pesava mais que o factor “cerimónia de adoração a um deus em que não acredito”. Além disso, queria acompanhar os meus familiares que iam estar presentes. Por isso, 40 anos (+/-) depois, voltei a assistir a uma missa. E, a meio, já estava arrependido!

A homenagem ao meu familiar resumiu-se a uma breve citação a meio da cerimónia. Cerimónia que foi aproveitada para, entre as orações e os cânticos, o padre ler um trecho da bíblia sobre o qual, depois, fez alguns comentários. Eu sei que se calhar estou a ser um ingénuo e a demonstrar uma enorme ignorância sobre o que se passa nas missas mas, quando o padre leu um texto em que um “servo” era uma das figuras centrais, porque era muito bom “servo”, e os elogiados eram os pobres, os sem abrigo, os que nada tinham, porque os outros perdiam-se com as suas posses, não demonstravam humildade, não se entregavam aos outros, não viviam a vida verdadeira, etc… Eu primeiro belisquei-me, depois perguntei-me se não me tinha enganado e não estava num comício de um qualquer “Partido da Servidão e da Humilhação Colectiva” para, depois, só ter vontade de sair dali para fora. Como é que é possível que, no início do sec XXI, se propagandeie descaradamente a submissão e a humilhação daquela maneira?!! Felizmente acabou pouco depois, e, com o resto das cerimónias, e as emoções que as rodearam, não pensei mais naquilo.

Mais tarde, revendo o que tinha acontecido, senti-me enganado! Fui a uma homenagem a um parente e saiu-me um comício do “Partido da Servidão”. E dei comigo a pensar que aquilo se repete milhares de vezes por todo o país todas as semanas! Para lavagem cerebral programada, não está mal.

Quero ser bem claro nisto: sou um intransigente defensor da liberdade de religião. Mas, defender a liberdade dos outros não significa dizer ámen a todos os disparates que se façam usando essa liberdade. E, se aquela missa foi algo de típico, então quero também dizer muito claramente, que na minha opinião, a Igreja Católica está a ter, no plano social, uma acção altamente perniciosa para a civilização ocidental e que deve ser frontalmente combatida! E isto não tem nada a ver com crenças religiosas ou liberdade de religião. Não quero combater nem a Igreja Católica, nem qualquer outra, no que respeita à sua acção religiosa. Mas, quando faz a apologia da servidão, isso já não tem nada a ver com crenças, tem a ver com o social e coloca-a, claramente, em oposição frontal a tudo o que sempre pensei e defendi. Não estou a defender qualquer proibição administrativa ou a sugerir qualquer esquema de censura. Estou a dizer que acho urgente que se acabem com determinados tabus e se diga frontalmente que, no plano social, aquela acção da Igreja Católica é totalmente errada e deve ser fortemente combatida. Sem temores nem subserviências.