03 novembro 2006

Eu Também conheço e…

"Eu conheço um país que tem uma das mais baixas taxas de mortalidade de
recém- nascidos do mundo, melhor que a média da União Europeia.

Eu conheço um país onde tem sede uma empresa que é líder mundial de
tecnologia de transformadores. Mas onde outra é líder mundial na
produção de feltros para chapéus.

Eu conheço um país que tem uma empresa que inventa jogos para
telemóveis e os vende para mais de meia centena de mercados. E que tem
também outra empresa que concebeu um sistema através do qual você pode
escolher, pelo seu telemóvel, a sala de cinema onde quer ir, o filme
que quer ver e a cadeira onde se quer sentar.

Eu conheço um país que inventou um sistema biométrico de pagamentos
nas bombas de gasolina e uma bilha de gás muito leve que já ganhou
vários prémios internacionais. E que tem um dos melhores sistemas de
Multibanco a nível mundial , onde se fazem operações que não é
possível fazer na Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos. Que fez
mesmo uma revolução no sistema financeiro e tem as melhores agências
bancárias da Europa (três bancos nos cinco primeiros).

Eu conheço um país que está avançadíssimo na investigação da produção
de energia através das ondas do mar. E que tem uma empresa que analisa
o ADN de plantas e animais e envia os resultados para os clientes de
toda a Europa por via informática.

Eu conheço um país que tem um conjunto de empresas que desenvolveram
sistemas de gestão inovadores de clientes e de stocks, dirigidos a
pequenas e médias empresas.

Eu conheço um país que conta com várias empresas a trabalhar para a
NASA ou para outros clientes internacionais com o mesmo grau de
exigência. Ou que desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas
portagens das auto-estradas . Ou que vai lançar um medicamento
anti-epiléptico no mercado mundial. Ou que é líder mundial na produção
de rolhas de cortiça. Ou que produz um vinho que "bateu" em duas
provas vários dos melhores vinhos espanhóis. E que conta já com um
núcleo de várias empresas a trabalhar para a Agência Espacial
Europeia. Ou que inventou e desenvolveu o melhor sistema mundial de
pagamentos de cartões pré-pagos para telemóveis. E que está a
construir ou já construiu um conjunto de projectos hoteleiros de
excelente qualidade um pouco por todo o mundo.

O leitor, possivelmente, não reconhece neste País aquele em que vive –
Portugal. Mas é verdade. Tudo o que leu acima foi feito por empresas
fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por
portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e
trabalhadores portugueses. Chamam -se, por ordem, Efacec, Fepsa,
Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida,
Altitude Software, Primavera Software, Critical Software, Out Systems,
WeDo, Brisa, Bial, Grupo Amorim, Quinta do Monte d'Oiro, Activespace
Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Space Services.
E, obviamente, Portugal Telecom Inovação. Mas também dos grupos
Pestana, Vila Galé, Porto Bay, BES Turismo e Amorim Turismo.

E depois há ainda grandes empresas multinacionais instaladas no País,
mas dirigidas por portugueses, trabalhando com técnicos portugueses,
que há anos e anos obtêm grande sucesso junto das casas mãe, como a
Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal, McDonalds (que
desenvolveu em Portugal um sistema em tempo real que permite saber
quantas refeições e de que tipo são vendidas em cada estabelecimento
da cadeia norte-americana).

É este o País em que também vivemos.

É este o País de sucesso que convive com o País estatisticamente
sempre na cauda da Europa, sempre com péssimos índices na educação, e
com problemas na saúde, no ambiente, etc.

Mas nós só falamos do País que está mal. Daquele que não acompanhou o
progresso. Do que se atrasou em relação à média europeia. Está na
altura de olharmos para o que de muito bom temos feito. De nos
orgulharmos disso. De mostrarmos ao mundo os nossos sucessos – e não
invariavelmente o que não corre bem, acompanhado por uma fotografia de
uma velhinha vestida de preto, puxando pela arreata um burro que, por
sua vez, puxa uma carroça cheia de palha. E ao mostrarmos ao mundo os
nossos sucessos, não só futebolísticos, colocamo- nos também na
situação de levar muitos outros portugueses a tentarem replicar o que
de bom se tem feito.

Porque, na verdade, se os maus exemplos são imitados,porque não hão-de
os bons serem também seguidos?"

Nicolau Santos, Director – adjunto do Jornal Expresso
In Revista Exportar

Encontrei este artigo no Quintus. Como não comprei a revista, tentei encontrar o original na Internet mas não consegui. Mas como fui parar a uma série de Blogs com o mesmo artigo e a mesma referência, parto do princípio que é verídico.

Verídico ou não, por uma vez alguém manda uma pedra no charco que é o discurso “standard” do nós-somos-uns-coitadinhos-e-o-que-se-faz-lá-fora-é-que-é-bom! (ALELUIA). Além disso, isto devia-nos fazer pensar. Pelos vistos, quando há organização e ideias, não há dificuldade em encontrar força de trabalho adequada em Portugal! E ter sucesso. Pelos vistos o problema não é o custo da mão-de-obra. Se calhar o caminho não é desvalorizarmo-nos e tornar mais barato o trabalho de cada vez que há uma crise mas sim procurar pessoas competentes, com ideias, organizar com um fim, promover quem é capaz e… obter sucesso. Se calhar o caminho é apostar nas capacidades dos portugueses em vez da competição com os Vietnams os Ugandas e as Chinas para ver quem é capaz de fornecer trabalho de escravo ao preço mais baixo.

Bom, se calhar eu é que estou a ser um optimista incorrigível …

3 Comments:

Blogger Letras de Babel said...

não é por nada mas alguém aqui se está a esquecer que dois milhões de portugueses vive (?) com 80 cêntimos por dia...é 20% deste país. mais os 30% que vive (?) com o ordenado minimo nacional, mais os 30% das eternas "vidas remediadas", etc...

e, com estas percentagens, assim por alto, estou a ser muito optimista. não se calhar, mas de certezinha...

4/11/06 03:11  
Anonymous Anónimo said...

Quando acabamos de ler o artigo um gajo fica com um ego do caraças.Mas se dermos um voltinha pelo Portugal profundo, chegaremos à conclusão que os Srs.feudais que atingiram esses enorme êxitos não gostam de ver o vizinho com uma camisa lavada.

15/11/06 10:08  
Blogger Jorge P. Guedes said...

Tudo isto poderá até ser verdade, mas... e as outras verdades? Os atrasos em tantos sectores vitais da economia? A falta de iniciativa dos empresários que , verdade se diga, Também não são devidamente estimulados? O turismo insipiente e com serviço de terceira, desempenhado em grande parte por trabalhadores sazonais sem escola da profissão? E os reformados que quase têm que optar por comprar remédios ou comer decentemente?
E o ensino que nem a falar português consegue ensinar? E os serviços de saúde cada vez mais caros para o utente pobre ( Os endinheirados não vão para os hospitais do estado)? E ... tanto maiss epoderia dizer!
Claro que devemos valorizar o pouco que temos de bom. Só que é demasiadamente pouco.

Governem os senhores políticos com eficácia, com transparência e competência, e Portugal poderá um dia vislumbrar o final do atoleiro.
Se assim não for, como não está a ser, em dez ou vinte anos seremos uma província da Ibéria com o governo central em Madrid.
Como hei-de pensar de outro modo? Que razões me dão para ser optimista?

18/11/06 15:43  

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