21 fevereiro 2006

Duplo Critério

Uma coisa que me faz confusão, há algum tempo, é a facilidade com que, em Portugal, se usam dois pesos e duas medidas para situações semelhantes. Por exemplo, sempre que o governo ameaça com uma intervenção para conter subidas anormais de preços ou para regular de alguma forma qualquer sector da economia, logo surge uma legião de Doutores Economistas escandalizados com essa hipótese. Que não pode ser, que não estão a deixar funcionar o “mercado” (o novo deus dos neo-liberais), que estão a hipotecar o futuro, blá blá, blá blá! Lembro-me de um debate sobre o tratamento que estava a ser dado ao sector bancário, a propósito de um orçamento de estado, em que um jovem do “Diário Económico” foi trucidado por três ou quatro economistas que lhe fizeram notar que, ter um sector bancário forte e com muitos lucros, devia ser um motivo de orgulho e que era bom para a economia. Portanto nada de aumentar os impostos sobre os bancos! E eu que achava que era um escândalo um sector com tantos lucros pagar tão pouco de impostos!!!
Agora o reverso da medalha: O sector de criação de aves domésticas está a atravessar uma pequena crise, devido à gripe das aves. Parece que o pessoal está a comer menos frango e similares, e os preços estão a descer! Como é lógico no “mercado”! Menos procura, preços mais baixos. Pois bem, não é que o governo e responsáveis do sector já vão preparando a opinião pública para a inevitável intervençãozinha (notícia aqui)? Sob a forma de subsídio doméstico ou de Bruxelas? Mas, então? O “mercado” já não é deus? As intervenções correctivas do governo já são boas? Não devíamos deixar o “mercado” funcionar?
Deixem lá ver se percebo. Quando um sector tem prejuízos todos temos que pagar uma parte deles (afinal, de uma forma ou de outra, os subsídios saiem-nos dos bolsos) mas, quando os lucros são extraordinários, nada de os dividir por todos, nem sob a forma de mais impostos pagos que diminuam a carga fiscal do resto do pessoal! Não percebo! Ou, se calhar até estou a perceber tudo!